
Quantas vezes nós nos perguntamos onde Deus estava quando estávamos passando por momentos difíceis que marcaram nossas vidas e causaram ferimentos profundos na alma?
Parece uma pergunta difícil para Deus responder, mas a Bíblia, ou seja, a Palavra de Deus nos responde e todas as inquietações dos nossos corações encontram a verdade no amor e no cuidado de Deus conosco.
Em Provérbios 15:3, o autor, divinamente inspirado pelo Espírito Santo, assim como nos confirma a Palavra (II Timóteo 3:16) diz: "Os olhos do Senhor estão em todo lugar, contemplando os maus e os bons."
Deus vê todas as coisas e com certeza viu tudo o que aconteceu com você. Viu as coisas boas e ruins que aconteceram na sua infância, contemplou seu sorriso e também se compadeceu com suas lágrimas. Conheceu todas as suas expectativas, sonhos, frustrações e medos que uma criança guarda em seu coraçãozinho. Na sua adolescência Ele conheceu os seus amigos. Ele sempre soube quais eram os seus sonhos. Ele viu o quanto você se decepcionou com a pessoa em quem você depositou sua confiança e que não cuidou de você. E quando você se tornou um adulto, talvez com tantas amarguras e feridas encobertas e escondidas na alma, Ele também as viu e, o seu sorriso, o seu disfarce, o choro contido e secreto não puderam impedir que Deus conhecesse as suas aflições...
Então você se pergunta: Ele se importou com tudo o que aconteceu?
Sim. Ele se importou e ainda se importa. A Bíblia nos diz em Naum 1:7 que "o Senhor é bom, é fortaleza no dia da angústia e conhece os que n'Ele se refugiam." Em IPe 5:6-7 o Senhor nos diz que devemos nos humilhar sob a Sua poderosa mão pois, em tempo oportuno, Ele nos exaltaria. Ainda, que o Pai tem cuidado de nós e devemos lançar sobre Ele todas as nossas ansiedades.
Algumas pessoas afirmam que o sofrimento é um caminho para a vitória e Deus não nos oferece respostas fáceis para a questão do sofrimento. Apesar do homem não compreender bem isso, Deus sempre prevalece e dá significado mesmo às piores situações.
Mas, como um Deus amoroso pôde permitir que algo terrível acontecesse comigo? Esta pode ser a sua terceira pergunta desde que começou a refletir sobre este assunto.
Você já deve ter ouvido falar em livre-arbítrio. Deus deu ao homem liberdade de escolha. No livro de Deuteronômio, a partir do versículo 15 do capítulo 30, o Senhor nos adverte acerca das nossas escolhas. É importantíssimo analisarmos a vida de sofrimento que Jó enfrentou para aprender que: a) a sabedoria não significa ter resposta para todas as perguntas mas saber ouvir a resposta de Deus; b) que o sofrimento não é castigo para os injustos mas canal de edificação e de crescimento espiritual para todos; e c) as decisões não devem ser tomadas com base em sentimentos, mas na direção do Espírito Santo para estarmos sempre no centro da vontade de Deus.
Em meio aos nossos sofrimentos e dúvidas nos sentimos sozinhos, com uma única certeza: a de que ninguém é capaz de entender como nos sentimos e do que precisamos. Mas Deus nos apresenta um Homem que, sendo Deus, foi desprezado e rejeitado e que sabe o que é padecer (Isaías 53:3-8). A Palavra nos garante que Jesus Cristo se compadece de nós, pois sentiu na "pele" tudo o que sentimos e, o fato de ter padecido por nós teve um propósito mui nobre: permitir que cada um de nós tenha livre acesso ao Trono da Graça, para alcançarmos misericórdia, mediante a fé em Jesus Cristo (Hebreus 4:15-16).
Deus entende como nos sentimos e nos encoraja a buscarmos a cura e a transformação e, ainda que para nós isto pareça impossível, Jesus disse que nada é impossível para Deus (Mateus 19:26).
O primeiro passo para vencermos os sofrimentos é confiar firmemente que a justiça de Deus promoverá um grande milagre em nossa história. Se Jesus Cristo é o mesmo de ontem, é hoje e será eternamente (Hebreus 13:8) então com certeza Ele ainda pode ressuscitar mortos, sarar enfermidades e restituir sonhos destruídos pelos sofrimentos, basta que não limitemos Deus diante dos nossos problemas.
Se agora temos base suficiente para crer no poder e na fidelidade de Deus para nos ajudar e salvar, a pergunta é: por onde eu começo?
A primeira coisa que devemos fazer é confessar a Deus as nossas mágoas. Esta é a maneira de reconhecermos que estamos doentes e precisamos de ajuda. Em Salmos 34:17-18, Davi escreve: "Clamam os justos, e o Senhor os escuta e os livra de todas as suas tribulações. Perto está o Senhor dos que têm o coração quebrantado e salva os de espírito oprimido." Nisto devemos depositar a nossa confiança, que Deus nos ouve e deseja retirar das nossas vidas o peso do pecado e as consequências dele. Para isso é necessário entregarmos nossas mágoas a Ele e perdoarmos nossos ofensores.
Viver a experiência do perdão é, sem dúvida alguma, uma das experiências mais complicadas e difíceis para o ser humano. Isto porque temos uma tendência natural à vingança. Se esperarmos a vontade humana para o perdão jamais iremos experimentar a plenitude do perdão divino. Jesus nos perdoou primeiro e, mesmo sem merecermos, Ele encontrou e praticou o amor que estava em si mesmo.
Deus fez o homem, o fez segundo a Sua imagem e semelhança (Gênesis 1:26), ou seja, deu-nos atributos que são próprios d'Ele. Um deles é o amor e, mesmo que infinitamente menor se comparado ao que Ele demonstra e pratica por nós, este atributo torna o ser humano capaz de perdoar. Ainda que os sofrimentos nos torne amargurados e endurecidos para a prática do amor cristão, o Espírito Santo nos capacita para isto (I Tessalonicenses 5:24).
O perdão liberado aos nossos ofensores é ordenança de Deus a nós: "Antes, sede uns para com os outros benignos, compassivos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus, em Cristo, vos perdoou" (Efésios 4:32). Como consequência do perdão renunciamos ao sentimento de vingança, que pertence ao Senhor (Romanos 12:19).
A Bíblia nos fala sobre a promessa de Deus quando nos propomos a praticarmos o genuíno perdão: "Não vos lembreis das coisas passadas nem considereis as antigas. Eis que faço coisa nova, que está saindo à luz; porventura, não o percebeis? Eis que porei um caminho no deserto e rios, no ermo." (Isaías 43:18-19)
O verdadeiro caminhar com Cristo é justamente tomarmos posse das promessas de Deus sobre as nossas vidas, na condição de praticantes da Palavra de Deus. O Espírito santo sonda os nossos corações, ou seja, Ele não está alheio aos nossos sofrimentos e intercede por nós junto ao Pai. Na infinita misericórdia de Deus, devemos acreditar que "todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, ... , que os predestinou para serem conforme à imagem e semelhança de Seu Filho..." (Romanos 8: 28-29).
Em todo sofrimento podemos descobrir o bem que nos aperfeiçoa. É inegável qua a cura de mágoas profundas levam tempo e este processo sempre exige fé, coragem e perseverança.
Se não encararmos os prejuízos causados por experiências traumáticas aplicando a verdade da Palavra de Deus, fatalmente as feridas não ficarão totalmente saradas.
"Então, na sua angústia, clamaram ao Senhor, e Ele os livrou das suas tribulações. Enviou-lhes a Sua Palavra, e os sarou, e os livrou do que lhes era mortal." (Salmos 107:19-20)
Jesus já pagou um alto preço pela nossa paz, pela nossa saúde física, emocional e espiritual e para que nos achegássemos ao Pai. Basta agora que tornemos a graça e a benção acessíveis a nós com a prática da fé, do amor e da vivência cristã, conforme o modelo ensinado por Jesus.
Marcia Batista
A Bíblia da Mulher: leitura, devocional, estudo. Tradução de João Ferreira de Almeida Revista e Atualizada. 2ª Ed, 1993. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil; São Paulo: Mundo Cristão, 2003.